Aviso

A lista de apoio ao Projeto Baladaboa está sendo vítima de algumas assinaturas falsas, seja por pilhéria, seja para envolver nomes ilustres. A lista será encerrada em algumas horas, e devidamente corrigida e limpa.

terça-feira, 10 de julho de 2007

NOTA OFICIAL

Considerando o relatório da Comissão deSindicância designada pelo presidente da FAPESP eo parecer do assessor científico que analisou orelatório científico apresentado em 11/5/2007, oConselho Técnico-Administrativo (CTA) daFundação, em reunião no dia 4/7/2007, com apresença do presidente da Fundação e de seusdiretores, decidiu autorizar a continuidade doprojeto "Implantação e avaliação de programa deredução de danos para o uso de ecstasy na cidadede São Paulo" até o final de sua vigência.

O objetivo desta autorização é permitir que aspesquisadoras responsáveis possam dar conclusãoao projeto, realizando a análise quantitativa e aavaliação estatística das informações coletadasna pesquisa. O CTA da FAPESP decidiu ainda quedeverá ser apresentado um complemento aorelatório científico anterior com os resultadosdessa avaliação sobre as ações envolvendo acampanha de redução de danos realizada e osquestionários aplicados. Esse relatório será, emseguida, submetido à análise da assessoriacientífica da FAPESP, conforme os procedimentos usuais da Fundação.

FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA DO ESTADO DE SÃO PAULO
4 DE JULHO DE 2007

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Apoio Sociedade Brasileira de Psicologia - SBP

Ribeirão Preto, 27 de junho de 2007

Exmo. Sr.
Prof. Dr. Carlos Vogt


DD. Presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP
Prezado Presidente,


A Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP) é uma entidade civil sem fins lucrativos, sem vinculações políticas, ideológicas ou religiosas. Há mais de três décadas, a SBP tem como foco uma intensa dedicação para o desenvolvimento da Psicologia científica junto àqueles que aprendem, ensinam, pesquisam, empregam técnicas e conhecimentos psicológicos.


Fazem parte da história da SBP a sua consolidada tradição e o seu forte compromisso com a produção e a divulgação de conhecimento científico. Por essa razão, encontramo-nos preocupados frente ao fato de a FAPESP ter suspendido o financiamento da pesquisa desenvolvida pela Dra. Stella Pereira de Almeida, sob supervisão da Dra. Maria Teresa Araújo Silva, professora titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP).


Ontem, na reunião da diretoria da SBP, este assunto foi ponto de pauta. Trata-se de um projeto que fora aprovado previamente pela FAPESP e pelo Comitê de Ética do IPUSP. Por um lado, lida com um tema polêmico, de fortes implicações sociais, ou seja, a aplicação da estratégia preventiva de Redução de Danos (RD) em usuários da droga ecstasy. Por outro, conta com a seriedade e a competência das pesquisadoras e das Instituições envolvidas, incluindo a Fapesp que analisou e aprovou a execução do projeto.


Nesse momento, os princípios que sustentam o conhecimento científico devem prevalecer. Por essa razão, a SBP coloca-se à disposição para contribuir para uma discussão qualificada, ampla e democrática sobre o tema.


Com os votos de elevada estima e consideração,
Atenciosamente



terça-feira, 26 de junho de 2007

A ressaca do ecstasy

do site da CARTA CAPITAL
por Phydia de Athayde
Estudo inédito analisa os efeitos sobre usuários no intervalo de cinco anos

Se você tomar uma dessas pílulas, sentirá a música de uma maneira totalmente nova, o corpo energizado, uma vontade de abraçar todo o mundo e, no dia seguinte, ficará meio deprimido. Esse é o ciclo básico de uma experiência com ecstasy e resume boa parte do que se sabe sobre o uso da droga. Mas o que acontece com os usuários anos depois? Um estudo sem precedentes no mundo tem a resposta e acaba de ser concluído. O psicólogo Murilo Battisti, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo, acompanhou um grupo de usuários em um intervalo de cinco anos e identificou não só padrões de consumo, mas também o que leva alguns a abandoná-la e outros a manter ou substituir a pílula pela cocaína. Com exclusividade para CartaCapital, detalhes e conclusões do estudo.

A pesquisa é um acompanhamento da história natural do uso de ecstasy. Battisti é estudioso do consumo de drogas sintéticas no Brasil e descreve o perfil do usuário. “O principal contexto de uso está ligado à cena da música eletrônica. O usuário é o jovem adulto, de classe média a alta, consumidor de outras drogas (lícitas e ilícitas) e com baixa percepção dos riscos do ecstasy”, explica.

Nesse espectro, Battisti identificou dois grupos. De um lado, a “geração rave”, universitários que consumiam a droga há dois ou três anos, geralmente em raves e clubs, em doses pequenas (de meio a dois comprimidos) e de forma esporádica. Do outro, o “mundinho da noite”, profissionais das festas e casas noturnas movidas a música eletrônica (DJs, promoters, hostess etc.) que consumiam a droga há cinco anos, geralmente em clubs, em doses altas (de dois a seis comprimidos) e com muita freqüência.

No intervalo entre 2001 e 2006, para os universitários a droga ou desapareceu ou seu consumo diminuiu para menos da metade. “Esse grupo passou a assumir papéis adultos na vida e tomar ecstasy perdeu o sentido”, diz Battisti, que classifica este como um padrão transitório de uso da droga. Os oriundos da geração rave apontaram, com o tempo, mais preocupação com a saúde e melhor percepção dos riscos do ecstasy.

No grupo da noite, por sua vez, o ecstasy continuou, com uma tendência à moderação na quantidade e ao retorno à cocaína (que já consumiam). “A vida desse grupo mudou pouco e, para eles, tomar ecstasy é quase uma conseqüência do trabalho”, analisa o pesquisador. Este grupo mencionou, depois de cinco anos, o aumento dos efeitos adversos – como a depressão – e a má qualidade da pílula como desestímulos ao consumo.

Um único usuário aumentou o consumo. De perfil “geração rave” (75% dos pesquisados), o jovem apresentava sinais de uso compulsivo em 2001 que se confirmaram em 2006. Ele é fisicamente dependente de ecstasy, um fato raro no uso da droga.

A pesquisa de Battisti é qualitativa e não deve ser avaliada por números absolutos. O grupo estudado teve 32 usuários na primeira etapa e 21 na segunda, pois alguns perderam contato e outros não quiseram prosseguir. “A amostra é numericamente pequena, mas é possível fazer inferências na população porque os perfis se repetem na sociedade”, explica.

Não há dados quantitativos sobre consumo de ecstasy no Brasil e as estimativas são feitas a partir de apreensões feitas pela Polícia Federal. Entre a primeira e a segunda etapa da pesquisa, elas tiveram um aumento substancial (de 1.909 para 19.094 comprimidos). De janeiro a maio deste ano, a apreensão já passa de alarmantes 171 mil unidades. Embora isso possa ser reflexo de maior eficiência nas operações policiais, é razoável supor que haja um aumento na demanda. Todos os anos o Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC) divulga o Relatório Mundial das Drogas. As informações relativas ao Brasil vêm dos números da PF. A edição de 2007 sai no dia 26 deste mês e, provavelmente, alertará para o aumento do consumo de ecstasy no País.

Não é difícil encontrar usuários e ex-usuários em grandes núcleos urbanos como São Paulo. A figurinista paulistana Karina, de 30 anos, usou a droga como transição para a vida adulta. Começou a tomar ecstasy aos 23. “Foi fase, coisa de moleca. Eu ganhava grana, saí de casa e tinha um namorado que tomava muito. Eu ia na dele, usava várias drogas e tomava bala (ecstasy) todo fim de semana, de três a cinco por noite, em clubes de música eletrônica”, diz.
No auge do consumo, Karina começou a sentir mais “crises de choro, sensação de morte”. Procurou um psiquiatra, foi diagnosticada com depressão e tratou-se por seis meses. “Resolvi colocar minha vida em ordem. Mudei de profissão, decidi cursar moda, voltei para a casa dos meus pais, terminei aquele relacionamento”, relata. Hoje Karina não quer mais saber da droga: “Não uso nem maconha. Tenho outras motivações, amo meu trabalho, gosto de acordar cedo, ter a cabeça ativa. Não me interessa mais estar fora do ar”. Do antigo namorado, más notícias. Ele tornou-se dependente de cocaína. “Aquele lá se perdeu para sempre”, diz ela.

O psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira coordena o Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad) da Unifesp e descreve uma sensação comum a quem toma ecstasy: “No início relatam efeitos fantásticos. Depois aumentam os problemas, e eles sempre esperam reviver aquela primeira sensação”.

Silveira diz que a dependência de ecstasy é rara. A médio e longo prazo, acredita-se que a droga provoca depressão e transtornos psíquicos ansiosos, como síndrome do pânico e fobia social, em usuários com predisposição. “Mesmo sem a droga, a maioria ainda terá de tratar os problemas por ela desencadeados”, alerta. Na parcela sem predisposição aos transtornos, ele acredita que o ecstasy possa ter papel semelhante ao da maconha. “Grande parte abandona o uso depois de alguns anos e segue a vida”, diz, mas ressalta que “há pessoas viciadas em um estado alterado de consciência, usuários compulsivos de qualquer droga”.

A pesquisa de Murilo Battisti trata de usuários contumazes em 2001. Desde então, o consumo da droga ganhou novos contornos. “Esse estudo é relevante por nos dar diretrizes para pensarmos medidas de saúde pública adequadas”, afirma Ana Regina Noto, pesquisadora do Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas (Cebrid) e orientadora do doutorado de Battisti.
Ainda que indique que a maior parte dos usuários abandonou ou reduziu o consumo do ecstasy, as conclusões de Battisti não são amenas. “Muito do impacto negativo passa despercebido e muitas vezes não é associado ao ecstasy”, diz, referindo-se a problemas psiquiátricos. “O ecstasy deixou de ser uma novidade. Passou a ser mais uma droga do arsenal”, conclui.

Leia na edição de CartaCapital que já está nas bancas a polêmica suspensão do financiamento do projeto Baladaboa, que informa usuários dos riscos da droga

Apoio Prof.a. Clarice Gorenstein

Que o Sr. Reinaldo Azevedo se choque com a pesquisa, é compreensível. Afinal ele não conhece o tema em profundidade e, quando foi procurar informação, já estava tomado de preconceito e de frases político-panfletárias na ponta do teclado. No entanto, a discussão em si é bastante saudável, porque o assunto abuso de drogas está muito longe de ser resolvido ou ser objeto de unanimidade.

Já o mesmo não se pode dizer quanto às acusações a duas sérias pesquisadoras da USP que, de modo algum, estão tratando o assunto com a mesma leviandade empregada por seus opositores.
O mais chocante de tudo é ver a FAPESP se sensibilizar com a polêmica e aparentemente desconsiderar a credibilidade e a competência das pessoas a quem, após rigorosa análise de seus próprios assessores – confiáveis até então – decidiu apoiar.

É muito preocupante quando uma instituição tão séria como a FAPESP, promotora de pesquisa de ponta no Estado de São Paulo, antes de reavaliar e sugerir alterações que julgue pertinentes – práticas comuns na pesquisa científica – interrompe um financiamento diante de um fórum ideológico. Será esse o nosso futuro?

Clarice Gorenstein
Prof. Associada Depto. Farmacologia
Instituto de Ciências Biomédicas da USP
Pesquisadora do LIM-23
Instituto de Psiquiatria HCFM USP

sábado, 23 de junho de 2007

ECSTASY: VALE A PENA INVESTIR NA REDUÇÃO DE DANOS.

Todos conhecemos o problema causado por drogas de abuso, legais ou ilegais. Os meios de comunicação mostram crescente e incessantemente como esse problema afeta o tecido social não só no Brasil como em várias outras partes do mundo. Diante desse quadro, pesquisadores da área se perguntam como contribuir para minorar esse grave panorama.

Existem várias respostas a essa questão, nenhuma delas satisfatória. Uma proposta, defendida por exemplo pela revista The Economist, é legalizar as drogas atualmente proibidas. Isso evitaria o contato do usuário com traficantes e obrigaria o controle farmacológico da substância. As experiências nesse sentido são poucas e inconclusivas. Há mais dados sobre outra proposta, a proibicionista, mas experiências como a Lei Seca nos Estados Unidos indicam a deficiência dessa estratégia, abandonada devido ao aumento da corrupção e da violência ligadas ao comércio ilegal.

A prevenção pelo amedrontamento consiste em transmitir informações parciais, exacerbando malefícios (“droga mata”) de modo dramático. Além de comprovadamente ineficaz, pois não leva à diminuição do consumo, esse modelo freqüentemente desmoraliza o agente de prevenção e prejudica futuras ações antidrogas. Ainda assim, é bastante utilizado no Brasil. Em nosso trabalho, que vem sendo considerado em certos veículos de comunicação como um incentivo ao uso de drogas, adotamos como estratégia preventiva a Redução de Danos (RD).

Apoiada pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria Nacional Antidrogas, a RD parte do princípio de que, quando impossível a erradicação de comportamentos de risco, impõe-se minimizar o dano causado por eles. Por exemplo, previne-se o risco de acidentes quando se recomenda que não se dirija depois de ingerir bebidas alcoólicas. Médicos evitam a morte quando aceitam tratar uma mulher que se submeteu a um aborto em condições precárias. Não se trata de aprovar o aborto ilegal, mas de evitar o mal maior. No caso do ecstasy, a RD reconhece que seu uso existe, comporta riscos e precisa ser entendido no contexto das variáveis que o determinam.

Para entender esse contexto, vimos realizando vários levantamentos. Observando a tendência crescente de consumo de ecstasy, não quisemos ficar encerrados no conforto de uma pesquisa que não levasse à ação. Foi o que motivou a elaboração do projeto “Baladaboa”, ora alvo de discussões na mídia, que questiona a validade do financiamento público que lhe foi destinado.

O projeto consiste em levantamento sobre o universo dos usuários de ecstasy, seguido de intervenção com distribuição de folhetos informativos (flyers) em locais freqüentados pela população-alvo e de uma avaliação dessa intervenção. Os flyers contêm informações sobre riscos do ecstasy e recomendações para reduzi-los.

Ao tratar do desconhecimento da composição do comprimido, por exemplo, os flyers recomendam que a dose seja reduzida à metade. Sobre efeitos fisiológicos, informam que a temperatura corporal elevada pode causar coma ou morte. Nesse caso, a orientação é: “Se você pretende consumir ecstasy, evite fazê-lo sozinho, tome líquidos não-alcoólicos sem exagero, vista roupas leves e descanse a cada meia hora quando dança”. Sobre danos de curto e médio prazo, descrevem as conseqüências psicológicas geradas pela droga, como ataques de pânico, quadros paranóides e depressão. Esse flyer, especificamente, recomenda que o usuário observe se o consumo de ecstasy vem sendo prejudicial e procure auxílio profissional se necessário. Quando a informação dada é sobre o perigo de associação do ecstasy com outras drogas, recomenda-se evitar essa associação e atentar para a interação tóxica que pode ocorrer com os muito utilizados antidepressivos.

Até sábado último, a avaliação da ação apresentava índices altamente positivos. A quase totalidade dos respondentes afirmou que o projeto deve ter continuidade, e mais de 70% dos respondentes usuários declararam que o projeto causou ou vai causar mudanças em seu comportamento relativo ao ecstasy. Assim, os flyers distribuídos vinham atingindo seus objetivos e seu público-alvo.

É um grande equívoco confundir Redução de Danos com apologia da ilegalidade. O uso de substâncias ilíticas ganhou há muito tempo dimensões alarmantes como problema de saúde pública. Projetos inovadores como o Baladaboa merecem apoio e aplicação de recursos públicos, pois trazem uma visão lúcida no trato de temáticas contemporâneas, constroem dados de referência para análise e trazem ganhos sociais e econômicos ao preservar a vida de pessoas expostas ao consumo de drogas.


Maria Teresa Araujo Silva, 67, professora titular de psicologia da USP
Stella Pereira de Almeida, 43, pós-doutoranda de psicologia na USP

APOIO ABEP

A B E P
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
ENSINO DE PSICOLOGIA
_____________________________________________________________________________________________________________
SRTVN Q. 702 – Ed. Brasília Rádio Center, 4º andar – Conj. 4038-A – CEP: 70719-900 –Brasília – DF – Brasil
Tel: (61) 3328-4433 / fone/Fax: (61) 3328.3163
Site: http://www.abepsi.org.br e-mail: abep@abepsi.org.br

Carta n. º 010-07/ABEP.
Brasília, 22 de junho de 2007.


Ilmo. Sr.
Carlos Vogt
Presidente
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP

Senhor Presidente,

A Associação Brasileira de Ensino da Psicologia – ABEP, entidade que tem a seu cargo o
acompanhamento da formação dos psicólogos brasileiros tem apontado como orientação uma
formação dirigida para as reais necessidades da população brasileira, bem como profissionais
preparados para atender de forma efetiva as necessidades das políticas públicas brasileiras em
especial nas áreas sociais, de educação e saúde.

A política de redução de danos que vem sendo desenvolvida corajosamente por entidades
não governamentais, programas universitários e apoiadas pelo Programa Nacional de DST/Aids e pelos programas estaduais, com estratégia de contenção da epidemia de Aids no Brasil é um dos pilares importantes e que certamente contribuíram para a constatação da qualidade e
reconhecimento internacional do Programa Brasileiro de combate à epidemia.

O debate sobre o uso e abuso de álcool e drogas no Brasil precisa ser feito de forma corajosa
e democrática. Atitudes ambivalentes contribuem muito mais para que forças conservadoras e
interesses econômicos atrasem, e inviabilizem projetos ainda frágeis, porque novos, em suas ações.

Nesta direção, a ABEP A Associação Brasileira de Ensino da Psicologia – ABEP vem a
público manifestar a sua preocupação com os acontecimentos que provocaram a suspensão da
distribuição, durante a Parada do Orgulho GLBT, de panfletos relativos a orientação de redução de danos para usuários de drogas e a suspensão pela FAPESP do financiamento do projeto
BALADABOA que tem como orientação a mesma preocupação.

A ABEP, ao mesmo tempo em que repudia medidas autoritárias de interrupção de projetos
dentro da política de redução de danos, conclama as entidades envolvidas a retomar o dialogo
necessário para a manutenção do programa de redução de danos, bem como dos projetos com ele envolvidos.

Atenciosamente,
MARCOS RIBEIRO FERREIRA
Presidente - ABEP

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Nota conjunta: ABORDA, REDUC e Rede Paulista de Redução de Danos sobre ataques recentes a Redução de Danos

Mesagem enviada hoje:

"Senhoras, senhores:

Segue anexa nota conunta da ABORDA, REDUC e Rede Paulista de Redução de Danos, sobre o posicionamento oficial da Coordenação de DST e Aids do Estado de São Paulo, e do Programa Nacional de DST e Aids, face os recentes ataques sofridos pela Redução de Danos.

Atenciosamente

Elandias Bezerra Sousa Presidente da ABORDA
Daniela Piconez Trigueiros Vice-presidente da REDUC
Domiciano Siqueira Presidente da Rede Paulista de Redução de Danos"

A Mariângela Simão Diretora do Programa Nacional de DST e Aids
Maria Clara Gianna Coordenadora de DST e Aids do Estado de São Paulo

O incidente transcorrido nos dias anteriores à Parada do Orgulho GLBT de São Paulo envolvendo um material com orientações de Redução de Danos, preparado para ser distribuído durante o evento, poderia ter servido como estopim de um debate sobre os direitos das pessoas que usam drogas e sobre as formas de se fazer e pensar promoção de saúde para esta população.

Num primeiro momento, foi isto o que se viu. Posicionaram- se acerca do assunto diferentes atores sociais: profissionais de saúde e da segurança pública, além de organizações e militantes do movimento GLBT e de Redução de Danos. Um debate intenso e saudável, desejado por todos aqueles que defendem saúde e democracia, e à democracia no debate sobre políticas de saúde.O episódio poderia ter sido bastante esclarecedor para todos. Infelizmente, a postura de dois dos atores mais importantes neste processo deixou a desejar: o Programa Nacional de DST e Aids, e a Coordenação de DST e Aids de São Paulo.

Imaginávamos, depois de mais de uma década investindo recursos financeiros e políticos nesta estratégia, que as coordenações fossem capazes de fazer a defesa da Redução de Danos com mais segurança. Ao terminarem sua nota oficial conjunta com um parágrafo que apóia à Associação da Parada do Orgulho GLBT em sua decisão de não disponibilizar os panfletos, referindo-se a um possível incentivo ao uso de drogas, o que as coordenações fizeram foi, em última análise, reforçar os discursos reacionários que consideram à Redução de Danos como uma estratégia duvidosa, e não a política oficial do Estado Brasileiro para o tratamento de questões relacionadas ao uso problemático de álcool e outras drogas, além de suas inestimáveis contribuições ao combate às epidemias de Aids e hepatites entre pessoas que usam drogas e suas redes sociais.

Agora, vemos o ataque estender-se a linhas de pesquisa em RD financiadas com recursos da FAPESP. Nosso temor é de que a ausência de uma posição mais veemente por parte do PN de Aids e da Coordenação Estadual resultem em destruição desta política de saúde, que é tão importante quanto frágil.Certos de que temos junto ao Programa Nacional de DST e Aids e à Coordenação Estadual de DST e Aids de São Paulo, parceiros na defesa da Redução de Danos, buscamos aqui o diálogo respeitoso, porém firme; nos pareceu extremamente maléfico para o desenvolvimento desta política, a nota oficial publicada diante da polêmica disparada pela reportagem da Folha de São Paulo do dia oito de junho.

Solicitamos esclarecimentos quanto a posição oficial tomada por estes órgãos que têm historicamente se colocado de maneira corajosa em debates extremamente controversos, e contra inimigos bem mais fortes do que um simples órgão de imprensa, como no caso da quebra da patente do Efavirens.Sendo o que tínhamos para o momento, subscrevemo- nos, enquanto aguardamos uma manifestação que possa sanar nossas dúvidas e nosso desconforto.

Atenciosamente
ABORDA - Associação Brasileira de Redutoras e Redutores de Danos
REDUC - Rede Brasileira de Redução de Danos e Direitos Humanos
Rede Paulista de Redução de Danos"

quarta-feira, 20 de junho de 2007

“Sobre o uso de ecstasy: uma pesquisa com vistas à formulação de intervenção preventiva”

Projeto Baladaboa

“Sobre o uso de ecstasy: uma pesquisa com vistas à formulação de intervenção preventiva”

Introdução

O ecstasy é uma droga psicoativa ilegal com propriedades estimulantes e perturbadoras do sistema nervoso central. Embora haja absoluta falta de dados epidemiológicos brasileiros sobre seu consumo , existem indicações objetivas de que esteja em expansão: o aumento no volume de apreensões e visibilidade na mídia, e os relatos de freqüentadores de casas noturnas e de profissionais de saúde que atuam na área do uso de drogas. Assim, o uso no Brasil parece estar de acordo com pesquisas epidemiológicas internacionais que apontam tendência de crescimento significativo do consumo de ecstasy e outras drogas sintéticas em diversos países (1-5) .


A neurotoxicidade conseqüente ao uso de ecstasy ainda gera muita polêmica. A maior dificuldade em se pesquisar os efeitos do uso de ecstasy em humanos é que estudos em que se administraria a substância a voluntários seriam antiéticos e estudos retrospectivos são incertos quanto à dose e freqüência já utilizada. Além disso, usuários de ecstasy são freqüentemente poli usuários de drogas, o que dificulta a identificação causa-efeito (6-8) . Há pesquisadores que afirmam ser necessário mais estudos para dimensionar a toxicidade dessa droga e descartar seu uso clínico (9-11) , e pesquisadores que acreditam que o ecstasy é comprovadamente neurotóxico sendo que inclusive apenas uma dose pode causar danos (12, 13) . Ainda que polêmica, sabe-se até o momento que existe relação entre o uso da droga e problemas de memória, depressão, determinados quadros fisiológicos e psicopatológicos agudos (14-20) . Além disso, o conteúdo farmacológico do ecstasy ilegalmente comercializado não é controlado e, portanto, pode conter uma variedade de substâncias e não apenas MDMA. Este é um fator diretamente relacionado ao potencial tóxico do ecstasy , que se soma ao fato dos indivíduos freqüentemente fazerem uso concomitante de diferentes drogas psicoativas, legais e/ou ilegais, em ambientes que podem aumentar a toxicidade de droga.

Assim, o uso de ecstasy efetivamente comporta risco para a saúde, seja pelo desconhecimento da composição do comprimido, seja porque ainda há lacunas sobre seu mecanismo de ação, sobre sua interação com outras substâncias, sobre os motivos das diferenças nas reações individuais à droga e sobre as conseqüências do uso em longo prazo. De outro lado, uma vez que o uso é um fato, tal risco pode ser minimizado se os usuários adotarem atitudes de Redução de Danos em relação a seu comportamento. A Redução de Danos é uma intervenção preventiva utilizada na Europa e Estados Unidos onde o uso de drogas sintéticas é bastante disseminado. Diversos estudos atestam sua legitimidade e eficácia (21, 22) .


Objetivos da pesquisa:
ETAPA I: Diagnóstico através de questionário
• Descrever sócio-demograficamente usuários de ecstasy e outras drogas sintéticas.
• Identificar comportamentos de risco para a saúde de tais usuários.
• Relacionar fatores predisponentes, indutores e protetores dos comportamentos de risco identificados.

ETAPA II: Intervenção
• A partir dos dados obtidos, definir conteúdo e formato de material de Redução de Danos dirigido á população consumidora de drogas sintéticas, e de prevenção primária para população que freqüenta ambientes onde o uso de drogas sintéticas costuma estar presente.
• Criar projeto gráfico e arte final dos materiais a serem veiculados.
• Fazer cotações e acompanhar a produção gráfica.
• Definir estratégia e operacionalização de veiculação.

ETAPA III: Avaliação
• Elaborar avaliação da intervenção realizada.
• Implementar o projeto realizado.
• Divulgar os resultados possibilitando replicação da intervenção em outras cidades brasileiras que apresentem problema semelhante.

Referências

1. Ahmad K. 2002. Increased use of amphetamine-type stimulants threatens east Asian countries. Lancet 359: 1927
2. Calafat A, Bohn K, Juan M, et al. 1999. Night life in Europe and recreative drug use . Palma de Mallorca: Martin impressores, S.L.
3. Pope HG, Jr., Ionescu-Pioggia M, Pope KW. 2001. Drug use and life style among college undergraduates: a 30-year longitudinal study. Am J Psychiatry 158: 1519-21
4. Strote J, Lee JE, Wechsler H. 2002. Increasing MDMA use among college students: results of a national survey. J Adolesc Health 30: 64-72
5. Wilkins C, Bhatta K, Pledger M, Casswell S. 2003. Ecstasy use in New Zealand: findings from the 1998 and 2001 National Drug Surveys. N Z Med J 116: U383
6. Almeida SP, Silva MTA. 2003. Ecstasy (MDMA): Effects and patterns of use reported by users in São Paulo. Revista Brasileira de Psiquiatria 25: 11-7
7. Tossmann P, Boldt S, Tensil MD. 2001. The use of drugs within the techno party scene in European metropolitan cities. Eur Addict Res 7: 2-23
8. Schuster P, Lieb R, Lamertz C, Wittchen HU. 1998. Is the use of Ecstasy and hallucinogens increasing? Results from a community study. Eur Addict Res 4: 75-82
9. Pentney AR. 2001. An exploration of the history and controversies surrounding MDMA and MDA. J Psychoactive Drugs 33: 213-21
10. Cole JC, Sumnall HR. 2003. Altered states: the clinical effects of Ecstasy. Pharmacol Ther 98: 35-58
11. Kish SJ. 2002. How strong is the evidence that brain serotonin neurons are damaged in human users of Ecstasy? Pharmacol Biochem Behav 71: 845-55
12. Gijsman HJ, Verkes RJ, van Gerven JM, Cohen AF. 1999. MDMA study. Neuropsychopharmacology 21: 597
13. Ricaurte GA, Yuan J, Hatzidimitriou G, et al. 2002. Severe dopaminergic neurotoxicity in primates after a common recreational dose regimen of MDMA ("Ecstasy"). Science 297: 2260-3
14. Cohen RS. 1995. Subjective reports on the effects of the MDMA ('Ecstasy') experience in humans. Progress in Neuro-Psychopharmacology & Biological Psychiatry 19: 1137-45
15. Gamma A, Frei E, Lehmann D, et al. 2000. Mood state and brain electric activity in Ecstasy users. Neuroreport 11: 157-62
16. MacInnes N, Handley SL, Harding GF. 2001. Former chronic methylenedioxymethamphetamine (MDMA or Ecstasy) users report mild depressive symptoms. J Psychopharmacol 15: 181-6
17. McGuire PK, Cope H, Fahy TA. 1994. Diversity of psychopathology associated with use of 3,4-methylenedioxymethamphetamine ('Ecstasy') [see comments]. British Journal of Psychiatry 165: 391-5
18. Morgan MJ, McFie L, Fleetwood H, Robinson JA. 2002. Ecstasy (MDMA): are the psychological problems associated with its use reversed by prolonged abstinence? Psychopharmacology (Berl) 159: 294-303
19. Parrott AC. 2000. Human research on MDMA (3,4-methylene- dioxymethamphetamine) neurotoxicity: cognitive and behavioural indices of change. Neuropsychobiology 42: 17-24
20. Wareing M, Fisk JE, Murphy PN. 2000. Working memory deficits in current and previous users of MDMA ('Ecstasy'). Br J Psychol 91 ( Pt 2): 181-8
21. Brocato J, Wagner EF. 2003. Harm reduction: a social work practice model and social justice agenda. Health Soc Work 28: 117-25
22. Weir E. 2000. Raves: a review of the culture, the drugs and the prevention of harm. Cmaj 162: 1843-8

http://www.ip.usp.br/laboratorios/psicofarmaco/inst_a2.htm

terça-feira, 19 de junho de 2007

Redução de danos

A Redução de Danos é uma estratégia da saúde pública que visa reduzir os danos à saúde em conseqüência de práticas de risco. No caso específico do Usuário de Drogas Injetáveis (UDI), objetiva reduzir os danos daqueles usuários que não podem, não querem ou não conseguem parar de usar drogas injetáveis, e, portanto, compartilham a seringa e se expõem à infecção pelo HIV, hepatites e outras doenças de transmissão parenteral.

A Redução de Danos tem sido a política prioritária para o desenvolvimento de ações junto a usuários de drogas e são desenvolvidas pelas três esferas de governo e também pelas organizações da sociedade civil.

O Ministério da Saúde tem envidado esforços para fortalecer a parceria entre os Programa de Saúde Mental, Programa de Hepatites Virais e o Programa Nacional de DST e Aids objetivando promover a integralidade da atenção e a visibilidade da redução de danos como uma política de saúde publica.

A Portaria nº. 1.028 de 4 de julho de 2005 do Ministério da Saúde preconiza estabelecer diretrizes que orientam a implantação das ações e, desta forma, subsidia municípios e estados na manutenção ou implantação de ações voltadas para usuários de drogas.

O trabalho de redução de danos, quando iniciado no Brasil, era focado em usuários de drogas injetáveis e foi avançando muito, ampliando seu campo de atuação e concebendo a redução de danos como uma política de saúde. Avanços também foram obtidos no campo dos direitos, com muitos estados e municípios conquistando legislações específicas sobre redução de danos.
A disseminação do HIV entre os usuários de drogas, seus parceiros sexuais e filhos constitui ainda um dos mais sérios danos decorrentes do consumo de determinadas substâncias psicoativas .

As ações de redução de danos devem preconizar reduzir todos os danos a saúde dos usuários e usuárias, considerando a exclusão social, as questões estruturais, o estabelecimento de referências e contra-referências como prioritárias dentro dos programas desenvolvidos. Assim, são apoiadas ações de fortalecimento da rede de redução de danos.

REVISTA ISTO É, COMPORTAMENTO, EDIÇÃO Nº 1830, 03/11/2004

Juliana Vilas

Conscientizar sem reprimir é a proposta do Baladaboa, projeto que visa diminuir os riscos que o ecstasy, um comprimido à base de MDMA (leia mais ao lado), traz para a juventude. As pílulas, chamadas de "balas", são consumidas largamente em raves e festas embaladas por música eletrônica. O programa é parte da tese de doutorado da psicóloga Stella Almeida, da Universidade de São Paulo, e tem apoio da Coordenadoria da Juventude da Prefeitura.

Para atingir os usuários, Stella, 33 anos, teve de conhecer de perto esse público. Além de frequentar raves, a psicóloga criou um amplo questionário que pode ser preenchido pela internet (www.psicofarmacousp.psc.br), com perguntas do tipo: "Costuma tomar com amigos? Em casa ou em festas?". As respostas servirão para criar uma campanha em 2005. Adepta da redução de danos - estratégia que, entre outras coisas, informa os usuários dos perigos que o produto acarreta e não impõe mudanças no estilo de vida -, Stella diz que não adianta falar que a droga mata. "Reduzir a zero o número de usuários é utopia. Posto que existem pessoas que vão tomar, que seja com os menores riscos", afirma. Sua proposta é, além de conscientizar os jovens, ensinar quem não se livrou da droga a usá-la em circunstâncias menos arriscadas. Stella falou a ISTOÉ.

ISTOÉ - Como é sua pesquisa?
Stella Almeida - Quem já tomou ecstasy responde a um questionário na internet. Até agora, tenho cerca de 500 questionários respondidos. No mestrado fiz o primeiro perfil dos usuários em São Paulo. Com esse novo projeto, quis fazer algo que trouxesse benefícios para esse público. Acho que o que mais funciona é a redução de danos. Reduzir a zero o número de usuários é utopia. Posto que existem pessoas que vão tomar, que seja com os menores riscos.

ISTOÉ - Quem são e onde estão os usuários?
Stella - O grupo que consome ecstasy é elitizado, até pelo preço (o comprimido custa, em média, R$ 30). São pessoas que estudam e trabalham. Há uma preferência pela música eletrônica. A maior parte tem entre 16 e 22 anos,
mora com os pais e se dá bem com eles. Isso quebra a idéia de que usuários têm relação conturbada com a família. Em geral, o consumo é limitado aos finais de semana e é raro alguém tomar sozinho em casa. É indício de que eles têm certo controle sobre a droga e só tomam quando querem.

ISTOÉ - É raro ouvir falar de gente que toma todos os dias, como os
dependentes de cocaína?
Stella - Essas drogas mexem com a dopamina (substância relacionada à satisfação), mas de formas diferentes. Vemos mais esse padrão compulsivo e diário entre os usuários de cocaína. O ecstasy não tem definida essa reação e ninguém encontrou prova disso. Claro que, se o cara toma sempre e de repente pára, estranha. Talvez tenha algum distúrbio de sono. Uma das reações comprovadas é que a pessoa fica deprimida dois dias após o uso. O ecstasy libera toda a serotonina (substância associada ao bem-estar) de uma vez e impede o neurônio de recaptá-la. Ou seja, esvazia o estoque e não repõe. Os usuários devem saber que isso é uma reação passageira. E não adianta tomar mais ecstasy nesse momento. É preciso reestocar serotonina e o corpo demora um pouco para fazer isso.

ISTOÉ - Como será a campanha?
Stella - Não adianta dizer que a droga mata. A pesquisa apontará que informação as pessoas têm, que lendas circulam. A incidência de sexo inseguro, por exemplo, é bem maior quando se toma ecstasy. Temos de dizer: "Sob efeito do ecstasy é mais difícil lembrar da camisinha. Tenha sempre uma por perto." Ficar repetindo "Se tomar ecstasy, não transe" não funciona. Mas tem de saber o jeito de falar para não parecer apologia às drogas.

ISTOÉ - O risco de a campanha soar como apologia parece inevitável.
Stella - Alguns acham que o projeto tem um pé na apologia, mas não é nada disso. O melhor é não usar ecstasy, óbvio. Mas tem gente que toma. Com a lei seca as pessoas pararam de beber? Vamos, então, fazer com que usem de um jeito mais adequado. No caso do ecstasy, além de informar, é preciso preparar os ambientes onde se costuma usar a droga. Como dizer "beba água e descanse" se o jovem vai a um local cheio de fumaça, sem lugar para repousar e onde a água custa R$ 5?